Saturday, November 11, 2006

towards a biohistory of art


Os homens convenceram-se que os deuses gostam de se autocontemplar como numa comédia violenta.

As máscaras e tudo o que na dissimulação se associa ao entusiasmo, tornam-nos parte de uma ficção a que chamamos com alguma incredulidade «o divino».

A inutilidade aproxima-nos da ideologia dos deuses. Mas não nos conformamos com a felicidade que nos é oferecida.

Deixemos os deuses ressuscitar os outros deuses.

Os remorsos deixam-se enterrar enquanto sementes.

A violência filo-sofica, consiste em afastar retóricamente os seus amantes fracos de uma amizade incendiária e combativa.

A génese de um pensamento pressupõe a sua destruição através do papagueamento.

A genialidade é a genitalidade dissolvendo-se como espuma no mundo.

A tarefa não é inverter o platonismo, mas carnavalizá-lo sintéticamente, fazendo emergir o seu explendor daquilo que ele parece negar.

O pensamento já não se pode descolar das imagens de onde aparenta se desentranhar. As imagens também estão, à sombra de uma bio-história da linguagem/natureza, defenitivamente conspurcadas pelos conceitos. É à sombra de um alegorismo híbrido e indestinado que as teorias prosseguem a sua bastarda caminhada.

O não-ser é um anti-molde processual que permite ao ser diferir-se em diferendos.



Pensar, no sentido filosófico, é o recreio do corpo – a criatividade do pensar surge da sua autonomia e da suposta impotência.

Os paradoxos tornam-nos sensíveis para os encadeamentos lógicos, como se estes fossem um circo de sincretismos a quererem provar implicações simplistas.

Estamos livremente encadeados e encadeando dissimulacros (ou «memes») – a empatia, a transição e a difusão de formas e emoções pressupõe fortes núcleos de dissimulação que agem profundamente sobre a propagação.

A história é menos um caleidoscópio dialético do que uma sucessão de ciclos que imitam diferidamente o calendário anual e as suas estações.

O sentido é uma pulsão predadora que se origina em si mesmo como acumulação de tensões cujas origens são tão velhas quanto os primeiros momentos do universo (caso exista algo assim) e cujos fins nem vale a pena procurar adivinhar.

Agradam-nos a multiplicação das complicações. Há no complicado um vontade de o superar e ser seu mestre.

Há nas articulações entre conceitos qualquer coisa de flatulento.

As coisas a que estamos habituados são não só as mais suspeitas, quanto pedem, para que sobrevivam, que exerçamos sobre elas uma guerrilha refutatória.

As revoluções cientificas procuram tirar os tapetes às convicções mais profundas, se bem que no fim quase tudo fique na mesma.

A história da civilização é a de uma adaptação a algo desadaptante.

O caracter acidental da singularidade que cada um é torna esta imanência mais acutilante e deseperada.

É o mundo que é o acidente do qual devemos disfrutar – ele necessita mais das nossas consciências do que as consciencias dele.

Não nos aquece nem nos arrefece o que podem dizer de nós, porque sabemos exactamente aquilo em que somos excelentes.

A genialidade é como as novas bactérias, e por isso é temida como uma doença, porque mais do que soluções faz emergir contaminmantes problemas.

Não necessitamos de uma história de arte, como um épico de conquistas idiotas, mas a fábula que nos mostra porque é que determinadas obras de arte são mais vivas e nos fazem viver mais.

O artista é como um agente duplo suspeito de pactuar com a poesia e com o poder que a destroi.

A história de arte é suspeita porque o critério biológico ou tecnológico de progresso não é aplicável. Podemos no máximo falar de um «progresso mimético» desejável.

A arte não artificializou o mundo, mas o mundo (neste pequeno planeta) artificializou-se como espelho negativo da arte (enquanto algo biológicamente exuberante). A arte insere-se cada vez mais nessa artificialização como molécula normalizada de um meio. Temos no entanto que admitir que o artista, não como infantil transgressor, mas como propagador de exuberantes rizomas, ainda é ecológicamente imprescindível. Por isso a história de varte segue mais padrões de cansaço ou de compensação do que supostas necessidades morais ou um padrão linear de emancipação. A emancipação pode ocorrer pontualmente, mas nunca como fatalidade histórica, porque a emancipação é a mais profunda imanência. Mesmo quando o nega.