Thursday, November 11, 2010

Han Shan



Tradução selvagem a partir da tradução do snyder

1

O caminho para os lados de Han-shan é risível,

Um trilho,

mas nenhum indício de carro ou cavalo.

Desfiladeiros convergem

- difícil desenhar suas torções.

Falésias amaranham-se - incrivelmente resistentes.

Mil ervas

curvam-se ao orvalho,

Um monte de pinheiros cantarola ao vento.

Neste momento perdi o atalho pra casa,

E o meu corpo é sombra

perguntando:

como vais sobreviver?

2

Num emaranhado de falésias

escolhi um lugar -

Aves percorrem-nas,

mas não há trilhos para mim.

O que há além da vegetação?

Vagas nuvens brancas rodeiam rochas.

Muito o que aqui vivi -

quantos anos? -

Uma e mais uma

a primavera,

passado

o inverno.

Vai e diz às famílias, seus utensílios e carroças:

"De que serve tanto dinheiro e ruído?"

3

Na serra faz frio.

Sempre frio,

não só este ano.

Afiadas escarpas onde neva sempre.

Bosques na escura névoa cospem ravinas.

Os arbustos ainda estão florindo no final de junho,

As folhas começam a cair no início de agosto.

E aqui estou eu, no alto

das montanhas,

Contemplando & contemplando

mas o céu não se deixa olhar.

4

Fustigo meu cavalo pela cidade devastada.

A cidade destruída afunda o meu espírito.

No alto,

E em baixo,

velhos parapeitos

Grandes

Ou pequenos,

os túmulos da velhice.

Abano a minha sombra, solitária;

Nem mesmo o estalido de um caixão é ouvido.

Tenho pena dos ossos vulgares,

Os livros dos Imortais ignoram os seus nomes.

5

Queria um refúgio perfeito:

A Fria Montanha abraçou-me.

Vento ligeiro em pinheiros ocultos -

Ouço a proximidade - o som clarifica-se.

Lá, um homem de cabelos grisalhos

Tartamudeia lendo Huang e Lao.

Durante dez anos nunca regressei a casa

E esqueci-me do caminho pelo qual cá cheguei.

6

Homens perguntam o caminho para a Fria Montanha

Fria é a Montanha e não há meios nem caminhos.

No verão, o gelo não derrete

A aurora turva-se no turbilhão de nevoeiro.

O que é que raio fui fazer?

Meu coração não é idêntico ao teu.

Se o teu coração fosse como o meu

Vinhas já buscá-lo e aqui ficarias.

7

Habituei-me à Fria Montanha há tanto tempo,

Já lá vão

anos e anos.

Livremente à deriva,

rondo bosques e riachos

E permaneço assistindo

ao calmo eclodir das coisas.

Os homens não chegam tão longe nas montanhas:

Nuvens brancas

reunindo

e crescendo.

A fina erva

acolchoa,

O céu azul faz

uma bela manta.

Estou feliz com um pedra na cabeça.

Que o céu e a terra alternem as mutações.

8

Escalo os caminhos da Fria Montanha,

Na Fria Montanha os trilhos sobem sobem.

O longo desfiladeiro engasgou-se

com seixos e pedregulhos.

É amplo o riacho.

A névoa embaça as ervas.

O musgo é escorregadio,

mas não houve chuva

O pinheiro canta,

mas não há vento.

Quem é capaz de sobreviver aos nós das palavras

E sentar-se comigo entre brancas nuvens?

9

Ásperos e escuros

- os trilhos da Fria Montanha,

Dentados pavimentos

- a margem do riacho congelado.

Queixume do chilrear

- aves sempre.

Desolado & sozinho:

nem sequer um caminhante solitário.

Chicote, chicote

- o vento fere minha face

Rodopiam e caiem

- flocos de neve nas minhas costas.

Manhã atrás de manhã,

não vejo o sol

Ano após ano,

nenhum sinal de primavera.

10

Vivi na Fria Montanha

longos longos trinta anos.

Ontem perguntei por familiares e amigos:

Mais de metade foi-se para as Nascentes Amarelas.

Vida lentamente devorada, como o fogo de uma vela;

Inecessante flui, como rio que passa.

Ao despertar deparo com minha solitária sombra:

Turvam-se os olhos de lágrimas.

11

A nascente de água no verde riacho

é clara.

O luar na Fria Montanha

é branco.

Silencioso saber - o espírito ilumina-se

no ser só.

Contemplar o vazio: este mundo excede

a quietude.

12

Nos meus primeiros trinta anos de vida

Vagueei centenas e milhares de quilômetros.

Andei por rios através de verdes e profundos arbustos

Penetrei na poeira vermelha de cidades ardentes.

Experimentei drogas, mas não me tornei Imortal;

Li livros e escrevi poemas sobre a história.

Hoje regresso à Fria Montanha:

Vou dormir junto ao riacho e purificar meus ouvidos.

13

Eu não suporto estes trilos de aves!

Vou já descansar na minha toca de palha.

As flores de cerejeira estão escarlates

O salgueiro atira-se das empenas.

O sol matinal paira sbre os picos azuis.

Nuvens brilhantes lavam lagoas verdes.

Quem saberá que estou fora do poeirento mundo

Subindo a vertente sul da Fria Montanha?

14

A Fria Montanha esconde

mil maravilhas,

As pessoas que aqui sobem

assustam-se.

Quando a lua brilha,

reluzem as claras àguas

Quando o vento sopra,

revolvem ervas e bagas.

Na ameixa nua:

flores de neve

No tronco morto:

folhas de névoa.

Ao toque de chuva, tudo se volve

renovado e vivo.

Na estação ruím é impossível atravessar riachos.

15

Há uma criatura nua na Fria Montanha

Com corpo branco e cabeça escura.

Na sua mão leva dois manuscritos,

Um é o Caminho e outro o Poder.

A sua cabana não tem panelas nem forno.

E vai para longas caminhadas todo desfraldado.

Mas leva sempre consigo a espada da sabedoria:

Para cortar insensatos propósitos.

16

Montanha Fria é uma casa

Sem seres ou paredes.

As seis portas abrem-se à direita e à esquerda.

O salão é o céu azul.

Os quartos estão nús e vazios

A parede leste toca na parede oeste

No centro de nada.

Os gatunos não me incomodam.

No frio faço uma fogueira

Quando estou faminto coso verduras.

De que me serviria ter uma quinta

Com seu grande celeiro e pastagens?

Ela encerra-nos como uma prisão.

Uma vez que a não podemos abandonar.

Pensa nisso -

Já sabes o que te pode acontecer...

17

Se me esconder na Fria Montanha

Vivendo de bagas e plantas da montanha

Toda a minha vida, porque me hei-de ralar?

Cada um segue segundo o seu karma.

Dias e meses fluíndo como a água.

O tempo é como faíscas desbastando pedregulhos.

Toca a andar e deixa as mundanças mudar -

Estou tão feliz por me sentar em falésias!

18

A maioria dos homens Tientai

Não conhece Han-shan.

Ignora o seu verdadeiro pensamento

E acham que ele só diz tolices.

19

Chegado à Fria Montanha, cessam os problemas -

Acabaram-se os emaranhados: a cabeça desliga.

Escrevinho perguiçosos poemas sobre penedos,

Agarrando o que agarrar, como barco à deriva.

20

Certo crítico tentou arrasar-me:

"Aos teus poemas faltam os príncipios básicos do Tao."

Lembro-me então dos velhos tempos

Quando era pobre e se estava nas tintas.

Tenho que me rir dele.

O tipo não percebeu patavina!

Gajos destes

Têm que andar a sacar umas massas.

21

Sim, vivi na Fria Montanha -

quantos outonos...

Sozinho, cantarolei canções -

totalmente

sem arrependimento.

Tenho fome:

provo um grão da medicina Imortal.

Mente sólida e nítida;

firme como uma rocha.

22

No topo da montanha

fria lua

redonda:

Estou só.

Luzes no céu límpido

sem nuvens nenhumas.

Honra esse tesouro natural de incalculável valor

Oculto em cinco sombras,

mergulhado na carne.

23

Desde o ínicio que o meu lar foi a Fria Montanha.

Andei a vadiar

entre colinas, longe

de problemas.

Deixei um milhão de coisas

sem rastro

Solto, como o que flui

entre galáxias:

Uma fonte de luz,

para a mente

excelente -

Não que seja algo,

mas que surge surge!

Agora conheço a pérola da natureza de Buda

Assim como o seu uso:

uma ilimitada & perfeita

esfera.

24

Quando os homens vêem Han-shan

Todos dizem que ele é louco

Ora, ora, não há muito a observar -

Veste-se de trapos e peles.

Eles não percebem o que digo

Pois não falamos a mesma língua.

Quando nos cruzamos sugiro-lhes:

"Tentem desenrascar-se na Fria Montanha".