Thursday, August 02, 2007

VIGYAN BHAIRAVA TANTRA







Esta é uma tradução já antiga de uma tradução que li no verão de 1981, ainda com os meus 18 anos, no livro Zen flesh Zen bones - prometo dar em breve outras traduções de outras traduções deste texto essêncial, assim como a minha paródia negativa.



Shiva, qual é a tua consistência?
O que é que este mundo cheio de maravilhas?
O que é constitui semente?
Quem centra a roda universal?
Qual é a vida para lá das formas invasoras?
Como poderemos entrar nela, para lá do espaço e do tempo, dos nomes e descrições.
Esclarece-me estas dúvidas!




1. Radiante, a revelação pode-se dar numa respiração. Após a inspiração e mesmo antes da expiração. Experimenta esta sua benificência.

2. No momento em que o ar vai ser expirado e também no momento em que vai ser inspirado, em cada desses momentos, toma consciência.

3. Ou ainda, quando o ar inspirado e expirado se fundem, nesses instante ressente a ausência de energia, ressente a presença de energia centrada.

4. Ou quando o ar for totalmente expirado e a respiração pára, ou quando o ar é totalmente inspirado e a respiração pára, durante essa pausa universal, o pequeno eu desvanece-se. Isso só é dificil para o impuro.

5. Considera a tua essencia como raios de luz despertando de chakra a chakra na vértebra, assim desperta a vivência em ti.

6. Ou nos espaços intermédios. Sente-o como relampagos.

7. Deusa, imagina o silabário devanagárico nesses focos de atenção recheados de mel. Primeiro os signos, e a seguir, subtilmente, os sons, e depois como sentimento subtilissimo. Deixando-os de lado, liberta-te.

8. Concentrado no ponto entre as sobrancelhas, deixa que o espirito se adiante aos pensamentos. Deixa que a essência da respiração encha a forma e suba até ao cimo da cabeça, e aí se espalhe como duche em luz.

9. Ou bem, imaginem que as cinco cores das caudas dos pavões são os vossos cinco sentidos, num espaço sem limites. Deixem a sua beleza invadir o espaço. Da mesma forma qualquer ponto num espaço ou sobre um muro. Até que o ponto se dissolve. Então o desejo de outra coisa realizar-se-á.

10. De olhos fechados, escrutina o teu ser profundo. Assim vê a tua própria natureza.

11. Concentra toda a tua atenção sobre o nervo, tão delicado quanto uma fibra de lotus, no centro da coluna vertebral. Assim, sê transformado.

12. Fechando as sete aberturas da cabeça com as tuas mãos, o espaço entre os teus olhos torna-se todo inclusivo.

13. Ao tocar os globos oculares como plumas, a ligeireza entre eles abre para o coração e aí satura o mundo.

14. Banha-te no centro do som, como num som continuo ou numa queda de àgua. Ou, pondo os dedos nas orelhas, escuta o som dos sons.

15. Entoa o som aum devagarinho. Mal o som atinja a plenitude sonora, também tu.

16. No inicio e gradual refinamento do som de cada letra, acorda.

17. Enquanto escutas instrumentos de corda, escuta o som composito central; assim a omnipresença.

18. Entoa um som audível. Depois cada vez menos audível até que o sentes mergulhar nessa silenciosa harmonia.

19. Imagina o espirito dentro e à tua volta até que o mundo inteiro se espiritualize.

20. Adorável Devi, entra na subtil presença que penetra muito mais fundo e para lá da tua forma.

21. Põe a tralha psiquica de uma forma optimamente inexprimivel por baixo, por cima, e no teu coração.

22. Considera qualquer area da tua presente forma como ilimitadamente espaçosa.

23. Sente a tua substancia, ossos, carne, sangue, saturados de prana.

24. Supõe que a tua forma passiva é um quarto vazio com paredes de pele: vazia.

25. Abençoado, assim como os sentidos se absorvem no coração, atinge o centro do lótus.


26. Mente desatenta, mantém-te no meio… até…

27. Sempre que estiveres em actividade verbal toma em atenção os dois sopros, e praticando isto, em alguns dias, renasce.

28. Concentra-te no fogo nascendo através da tua forma a partir dos calcanhares até que o corpo arda até às cinzas, mas não tu.

29. Medita no mundo aparente como ardendo até às cinzas, e torna-te num ser para lá do humano.

30. Sente as excelentes qualidades da creatividade atravessando o teu peito e assumindo configurações delicadas.

31. Com a ajuda do intangivel sopro no centro da fronte, quando este atinje o coração no momento do sono, sê o mestre dos teus sonhos e da própria morte.

32. Tal como as letras fluem subjectivamente para as palavras e as palavras para as frases, e tal como os circulos fluem objectivamente para os mundos e os mundos para principios, descobre finalmente estes convergindo no nosso ser.

33. Ò gracioso, joga! O universo é uma carapaça vazia em que a tua mente se diverte infinitamente.

34. Olha para uma taça sem ver os lados ou o material. Por alguns momentos torna-te ciente.

35. Permanece num local interminavelmente espaçoso, despejado de arvores, montanhas, casas. Assim terminam as pressões mentais.

36. Ò doce, medita no saber e no não saber, no existir e no não existir. Depois deixa-os de lado e sê.

37. Olha carinhosamente para um objecto. Não passes para outro. Aqui, dentro desse mesmo objecto: a benção.

38. Sente o mundo inteiro como uma presença translucida e sempre viva.

39. Com a maxima devoção concentra-te nas duas junções da respiração e conhece o conhecedor.

40. Considera o auge como sendo o teu corpo em extase.

41. Enquanto és acariciada, doce princesa, entra nessas carícias como numa vida que não tenha fim.

42. Fecha as portas dos sentidos às cocegas de uma formiga. Então.

43. No principio do estreitamento sexual, mantem-te inicialmente concentrado no fogo, e, prosseguindo, finaliza desembaraçando-te das brasas.

44. Em tal abraço os sentidos são abanados como folhas. Entra nesse estremecimento.

45. Mesmo recordando a união, sem o abraço: a transformação.

46. Ao ver alegremente um amigo à muito ausente, aprofunda essa alegria.

47. Quando bebendo ou comendo, torna-te no sabor da comida e da bebida, e enche-te.

48. Ah, tu que és a dos olhos em lotus e doce no toque; enquanto cantas, olhas ou saboreias, atenta no que és e descobre o sempre vivente.

49. Onde quer que seja que te satisfaças, seja qual for o acto, actualiza isto.

50. No ponto do sono em que o sono ainda não chegou, e a externa vigilia se dissolve, nesse ponto o ser é revelado.

51. No verão quando se consegue ver claro o céu interminável, entra em tal claridade.

52. Permanece deitado como um cadáver. Enraivecido na cólera, assim fica. Olha sem pestanejar. Ou ainda, aspira e torna-te o aspirado.

53. Sem o suporte dos pés e das mãos senta-te sómente no rabo. Subitamente o centramento.

54. Numa posição confortável, gradualmente penetra numa àrea entre os sovacos para dentro de uma enorme paz.

55. Vê, como se fosse a primeira vez um santo e um objecto vulgar.

56. Com a boca ligeiramente aberta, mantem-te concentrado no meio da lingua. Ou, assim que o sopro vem silenciosamente, sente o som HH.

57. Quando numa cama ou num assento, deixa-te tornar sem peso, para lá do pensamento.

58. Num veiculo em movimento, oscilando ritmicamente, experimenta. Ou num veiculo parado, deixando-te andar à volta em circulos invisiveis.

59. Ao olhar simplesmente o céu azul para além das nuvens: a serenidade.

60. Shakti, vê todo o espaço como se já estivesse absorvido na tua cabeça, brilhando.



61. Acordando, dormindo, sonhando, conhece-te enquanto luz.

62. Na chuva, durante uma noite negra, entra na negritude como na forma das formas.

63. Quando uma noite de chuva sem luar não está presente, fecha os olhos e descobre a escuridão à tua frente. Abrindo os olhos, vê a escuridão. Assim as tuas falhas desaparecem para sempre.

64. Mal tenhas o impulso de fazer qualquer coisa, pára.

65. Concentra-te no som aum sem a ou m.

66. Silenciosamente entoa uma palavra terminando em AH. Depois em HH, sem esforço: a espontaneidade.

67. Sente-te a penetrar em todas as direcções: longe, perto.

68. Perfura alguma parte da tua forma cheia de mel com um alfinete, e, amávelmente, entra na prefuração.

69. Sente: o meu pensamento, essência do eu, orgãos internos: eu.

70. Ilusões decepcionam. Cores circunscrevem. Mesmo os divisiveis são indivisiveis.

71. Quando qualquer desejo chega presta-lhe atenção. Seguidamente larga-o.

72. Antes do desejo e do conhecimento, como poderia dizer o que sou? Toma atenção. Dissolve em beleza.

73. Com a consciencia inteira no principio do desejo, do que há a saber sabe.

74. Oh Shakti, cada percepção especifica é limitada, desaparecendo na Omnipotência.

75. Na verdade as formas são inseparáveis. Inseparáveis são o ser omnipotente e a tua própria forma. Considera cada como produzida por esta consciência.

76. Em estados de extremo desejo permanece imperturbável.

77. Este universo assim chamado assemelha-se a um truque, a um espetaculo. Alegra-te assim ao olhá-lo.

78. Oh bem amado, coloca a atenção em algo que não seja dor nem prazer, mas entre estes.

79. Deita fora o que te agarra ao corpo, concluindo que estou em toda a parte. Quem está em toda a parte é alegre.

80. Objectos e desejos existem tanto em mim como nos outros. Ao aceitá-los traduzam-se.

81. A apreciação dos objectos e assuntos é a mesma para um iluminado e um não-iluminado. O primeiro tem uma vantagem: permanece no dominio pessoal, não perdido nas coisas.

82. Sente a consciencia de cada um como a tua própria. Assim, pondo de lado as preocupações com o próprio, torna-te cada ser.

83. Pensando coisíssima nenhuma, torna ilimitadas as tuas próprias limitações.

84. Crê omniscente, omnipotente, invadinte.

85. Assim como as ondas trazem àgua e o fogo chamas, assim connosco as ondas do mundo.



86. Vagueia até à exaustão e então atira-te para no chão, e neste despejar sê inteiro.

87. Supõe que gradualmente ficas desprovido de força ou conhecimento. No instante de desprovisão, ultrapassa.

88. Escuta enquanto o derradeiro ensinamento mistico é concedido: Olhos parados, sem pestanejar, e subitamente torna-te absolutamente livre.

89. Obliterando as orelhas ao comprimi-las e o ânus contraindo-o, deixa entrar o som dos sons.

90. À beira de um poço fundo olha sem te mexeres para as suas profundezas até que: a maravilha.

91. Onde quer que a tua mente vagueie, interna ou externamente, nesse mesmo lugar, isso.

92. Quando vividamente atento através de um sentido específico, mantém a atenção.

93. No inicio do espirro, durante o susto, na ansiedade, sob um precepício, fugindo na batalha, em extrema curiosidade, no inicio da raiva, no fim da raiva, sê ininterruptamente atento.

94. Deixa que a atenção esteja num local onde vejas acontecimentos passados, e mesmo a tua forma, tendo perdido as caracteristicas presentes, é transformada.

95. Olha para um objecto à tua frente. Depois, lentamente, vai desviando a atenção dele. A seguir, lentamente, desvia o teu pensamento dele. Então.

96. A devoção liberta.

97. Sente um objecto perante ti. Sente a ausência de todos os objectos excepto este. Depois, pondo de lado a sensação do objecto ou da sua ausência, compreende.

98. A pureza dos outros ensinamentos é como impureza para nós. Na verdade nada é puro ou impuro.

99. Esta consciencia existe como cada ser, e nada mais existe.

100. Sê o diferido mesmissimo para um amigo ou um desconhecido, na honra e na desonra.

101. Quando sentes que algo contra alguém ou para alguém desperta, não ponhas a pessoa em questão, mas permanece concentrado.

102. Supõe que contemplas alguém para lá da precepção, de qualquer alcance, para além do não-ser: tu.



103. Entra no espaço, sem suporte, eterno, imóvel.

104. Sempre que a tua atenção se acende, nesse momento preciso, experimenta.

105. Entra no som do teu nome e através desse som em todos os sons.

106. Estou a existir. Isto é meu. Isto é isto. Ò bem amada, nisso conhece a ilimitabilidade.

107. Esta consciencia é o espirito de conduta de cada um. Sê esse.

108. Esta é uma esfera de mudança, mudança, mudança. Através da mudança consuma a mudança.

109. Tal como a galinha cuida dos pintainhos, cuida tu dos conhecimentos particulares, dos actos particulares, na realidade.

110. Uma vez que, na verdade, servidão e liberdade são relativos, estas palavras são para aqueles vivem aterrorizados com o universo. Este universo é um reflexo de pensantes. Tal como podes ver muitos sois na agua a partir de um sol, do mesmo modo vê a servidão e a libertação.

111. Cada coisa é percebida através do conhecimento. O si-próprio brilha no espaço através do conhecimento. Entende o ser-se como conhecedor e conhecido.

112. Bem amada, neste momento deixa que o pensar, o conhecer, o respirar e o formar sejam incluidos.

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