Thursday, September 13, 2007

Livro das escusas (5)


(V.)

91. Interpretar é recuar.
92. Agir é declinar.
93. A interpretação é um recuo na declinação
94. A acção permite que nem tudo seja interpretação.
95. Interpretar é recuar não apenas à acção, ou às determinações dos agentes, mas ao tecido borbulhante que está para lá das causas e acções.
96. Esse tecido é o tempo. O tempo como cruzamento de registos, como inscrição, e o tempo como ameaça de Anestesia ou de insignificância.
97. As interpretações só se fazem a partir de marcas, de sinais que simplificados, se tornam explicitos.
98. Os sinais comportam-se como grafittis, marcam o território de caça ou amoroso.
99. Há sinais involuntários, mas os signos dizem sempre que algo esteve ali, como numa investigação policial.
100. O explícito é apenas um iceberg da plenitude.
101. O implicito é aquilo que queremos implicar numa dramaturgia de inferências.
102. O subreptício é aquilo que se insinua, mas não claramente.
103. Interpretar é tornar o passado numa determinação sintomática.
104. Interpretar não é ser fiel aos factos, antes pelo contrário. Na interpretação há uma tendência inequívoca de infidelização em busca de uma complexidade acrescida e de um deleite narrativo.
105. Interpretar é ser congruente com a animação. É um recuo da alma ao absoluto.
106. Há quem prefira chamar-lhe gradus ad parnasum.
107. Interpretar é também agir contra a acção, arrepiantemente. É o acto paradoxante de agitação.



108. Impressão, expressão, afectação, inferência e congruência sequêncial são modos que governam a intrerpretação.
109. A impressão é a focagem imediata.
110. A expressão é o grau de animação que estimulou o conjunto dos sentidos.
111. Afectação é a alteração no interpretante que depende da permeabilidade ou impermeabilidade deste ao interpretável.
112. Inferência é o uso de mecanismos de implicação interpretativa mais ou menos rigorosos que secam o interpretável da impressão.
113. A congruência sequêncial é o uso de um conjunto de informações sobre o contexto do objecto interpretável que tornam claras e pertinentes determinadas interpretações numa determinada posição quer no espaço quer no tempo.

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