Sunday, September 16, 2007
O LIVRO CINZENTO DE ZINGDONG
1. Não é uma criatura, mas algo malcriado.
2. Tem nomes a mais para uma forma de desistência.
3. Nomes que indicam como se indefenissem
4. Algo que rasteja nas palavras mas que prefere ficar aquém destas.
5. As palavras curtas tornam as jogadas mais rápidas.
6. Agarra as transições e os buracos negros entre as palavras e os silêncios.
7. Exprimir exactamente o que não nos apetecia exprimir.
8. Os conhecimentos pequenos esgueiram-se para debaixo dos grandes aproveitando-se maliciosamente das suas sombras.
9. Os argumentos éticos propiciam crimes oficiais.
10. O ego, assim como o que nos distingue dos demais, não pretende confundir-se com a vulgaridade da verdade. O que é mais nosso é uma fibrosa variação.
11. Recusa participar em equipas que não te singularizem. A tua singularidade é muitas vezes supremamente indistinta.
12. Entrar num estado entre a forma perfeita e cabotina e a moleza do informe.
13. Alcançar o que se quer formar no informe e o que não informa nas formas.
14. Uma aliança contra as semelhanças.
15. Não te podes comparar a nenhuma maneira, mas também não pedes para ser original.
16. Dissimulas, mas não tens nenhum segredo no buxo. É uma estratégia vital?
17. A natureza é mais estratégica do que essencial.
18. Uma falta de talento para a manipulção e algum faro para agarrar a ocasião.
19. A sensibilidade é, ao fim e ao cabo, a luxúria numa versão mais admissível.
20. O amor da sabedoria pode levar a overdoses liturgicas.
21. Porque é que treinas as tuas orelhas se acabas sempre por ser frito pela piedade?
22. Ter razão é engordar a presunção. A presunção dá-nos a possibilidade de chegar à condição de presunto.
23. As pessoas gostam de cortar fatias de prazer aos outros.
24. A musicalidade é pouco mais do que o talento combinatório armadilhado de sons: a especialidade canalha de dar milho aos melómanos.
25. O amor da sabedoria faz do sábio um actor enervante que ficaria melhor pendurado num talho.
26. O amor do conhecimento conduz à busca de facas e ao adiamento das fezes.
27. A confusão é o mundo mesmo quando este cai em si mesmo.
28. Os homens desonram o prazer repetidamente porque encontram um prazer mais fácil nos remorsos.
29. Que o jejum afaste das nossas unhas a unidade.
30. Quando te retiras da unidade, sobretudo a mais negramente interior, o que vem ter contigo é delicioso.
31. Mordiscas os opostos em todas as dentadas.
32. Os jogos de palavras fazem com que as palavras já não nos apanhem
33. As afirmações e negações convergem nas suas divergências e divergem nas suas convergências.
34. As coisas obscurecem naquilo que as ilumina.
35. A desordem é uma variante da variação tentacular que nos sedimenta.
36. As capacidades estão-se nas tintas para os erros de onde nasceram.
37. Pensamos para simular independência.
38. Gostamos de pendurar limpas semelhanças ao lado de porcas diferenças.
39. A recusa não é apenas uma a aceitação irónica, mas uma partida iconoclasta.
40. O funeral do sábio enterra a sua sabedoria.
41. A inação camufla-se de acção.
42. Determinadas habilidades transformam-nos em algo misterioso e ligeiro.
43. Não estudamos, mas farejamos. A sabedoria vem ter connosco como uma presa fácil. Chupamos-lhe o tutano em menos de um fósforo.
44. A sabedoria afina-se na sua refutação. A sabedoria refina-se na masturbação.
45. O acaso atrai muitas necessidades mas não se contenta com nenhuma.
46. Garantimos uma quietude com muito movimento. É a imobilidade que transforma a transformação?
47. A alegria é preferível à beatitude. Um sábio triste ou mais-ou-menos apático destila sabedoria de merda, por mais limpa que esta seja.
48. Não preciso de seguir um método porque são os métodos que me seguem.
49. Vejo as distinções como distrações. Ás vezes chegam a ser prometedoras.
50. Os pensamentos exercitam-se pelo prazer de se exercitarem. O que faz parte dos atributos irónicos do corpo.
51. A sesta afina o conhecimento das transições.
52. O grande vácuo, ou o supremo vazio é como um grande peido. Com todo o respeito! Mas na demiurgia sobram caganitas estelares e planetárias.
53. O mundo auto-organiza-se sem directivas superiores. É na identificação com esse vácuo peidológico que se dá o extase.
54. Limitado e ilimitado são casos extremos do entreaberto.
55. Há uma pretensão em não deixar pistas ou obras semelhante à do egocentrico Ling Chung polindo as suas odes. O tempo, o grande tempo, apagará todos os traços. Somos, mesmo mortos e desconhecidos, tremendamente interactivos.
56. É complexo, com demasiadas e contraditórias defenições.
57. Há quem procure a boa ou a má reputação. Mas a aparência não interessa, só a simpatia.
58. Amizade carismática. O carisma dos chefes é como as perucas.
59. Serás um dia autodestruído. Então já não será tarde.
60. A disciplina do desforço torna os esforços talentos ligeiros. Não te esforces para seres desforçado.
61. Longevidade é criatividade e curiosidade.
62. Não há um momento certo para parar. Nada fica acabado. A acção mantém-se no inacabado. Há recomeços que continuam os inacabamentos com outros inacabamentos.
63. Felizes interactores de multiplas acções que se cruzam.
64. A felicidade não nos encontra se a ficarmos aguardando ou se a procurarmos. É a treta de sempre. Acabamos por encontrá-la por acaso.
65. O que deve ser feito é o que não deve ser feito, sobretudo quando parece que é para ser feito.
66. O indeterminado como determinante provoca gargalhadas. Os produtos da pura indeterminação provocam bocejos.
67. Concretiza através do não-fazer, mesmo que isso tenhas que fazer alguma coisa.
68. Toda a perfeição é uma imperfeição amputada e simplificada.
69. Torna as proezas banais, quase imperceptíveis.
70. Se a arte for superflua o mundo fica equilibrado.
71. Vida fácil, morte retardada.
72. Mentes livre, pensamentos lubrificados.
73. A desonra torna os homens mais nobres mas as suas vidas mais marginais.
74. As virtudes são estereis, mas se forem bem diversificadas, fazem um excelente cozido.
75. Sinto uma certa nausea quando vejo a sabedoria a procurar atingir objectivos.
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