Friday, September 14, 2007

tau-tau (101-150)


101. As massas, em geral, são desconfiadas e ressentidas. O santo percer-lhes-á ingénuo.
102. Não há nada na artephysis que faça apelo à transcendência.
103. A subjectividade é como um balão. Quando vazia não ocupa espaço. Quando cheia é apenas a interface entre dois vazios.
104. A paz é pouco mais do que a homeostase da guerra. A disputa é a normalidade. A paz a anormalidade, ou excepção. O sábio concentra-se nas excepções.
105. O mundo esbraceja. Quererá dizer qualquer coisa? Procura uma finalidade obscura? Ou não tem mesmo nada para dizer?
106. Se as coisas não parecem dirigir-se para qualquer alvo, será que vieram de algum sítio? Será que há nelas o desejo, ou a fatalidade, de retornar? Ou não passa de um sonho que reinventa uma calmaria pré-natal?
107. O repouso, a calma, o frio parecem ser mais um estado terminal do que uma origem, por mais interminável que seja essa terminalidade.
108. As origens são vulcânicas, catastróficas, impredictíveis.
109. Renovar é promover a agitação e saber resistir à agitação.
110. A deterioração é quase eterna. Sem, deterioração seria impossível a novidade. Sem a novidade a liberdade seria aborrecida.



111. Não há iluminação sem deterioração. Entender isto é já um passo para transformar o deteriorado no iluminado.
112. A ignorância não ajuda a nada. Se queres ser servo da obscuridade e um mero instrumento dos caprichos da natureza, caminha nos autoestradas da estupidez. Quem sabe se não chegarás à barraca da ciência?
113. Imparcialidade? Magnimosidade? Naturalidade? Tu és natureza e como ela e com ela transformas e és transformado.
114. A artephysis é um xarope.
115. Haverá algo que não seja dotado de visões particulares? Não!Haverá algo acima de qualquer coisa e fora de suspeita? Não! Haverá algo que não seja natural? Não!
116. Queres tornar-te imortal? Não fazes ideia... Sê o próprio Tau-Tau, e logo verás.
117. A geometria é a forma mais prática de arrumar os assuntos. Não sei se é a mais aconselhável...
118. Há quem suspeite de qualidades mágicas da geometria e dos números.
119. As regras procuram amantes.
120. O sábio ama aquilo de que os outros têm nojo.
121. Os assuntos temidos dão boas novelas.
122. As melhores regras têm tendencia a serem desprezadas.
123. Quem tem fé tem deuses à cabeceira.
124. Os temas são por natureza curtos.
125. A finalidade de um tema é ser desenvolvido até à exaustão.



126. Quando falta memória o Tau-Tau é esquecido. A memória dos homens é limitada e não chega para abarcar o Tau-Tau. Por isso o sábio mergulha no Tau-Tau como se mergulhasse no esquecimento.
127. O dever e a justiça são hipocrisias? É o que dizem os anarquistas. A falta de sabedoria é compensada com mil e uma regras idiotas.
128. O contrário de sabedoria é a burocracia.
129. A sabedoria é a súmula das excepções. A burocracia a confusão desnecessária das regras.
130. O patriotismo torna-se arreigado quando a crise desaba sobre as nações.
131. Se despojares um povo de ficções ele torna-se nu. O remédio encontra-se no repouso ou na actividade? Cada povo sofre de uma ficção invulgar.
132. Um povo que não satisfaz os seus desejos cheira mal. Um povo satisfeito tem um ar estupido. Um povo que se vai satisfazendo – eis a eficácia.
133. O uno é uma moda como qualquer outra. É uma moda minimalista. O nada é outra moda ainda mais minimalista.
134. Será que só o múltiplo incomóda?
135. A distinção entre o sim e o não é estratégica.
136. A diferença entre o bom e o mau é uma questão de paladar.
137. Os homens temem a noite porque é nela que a ternura se revela. Na noite os sentimentos rondam o homem como se este tivesse acabado de nascer. A noite é o medo de voltar a nascer? Ou será o medo de regressar ao útero?
138. O sábio repousa na alegria e na dança.
139. Tudo o que se acumula é levado pela morte.
140. Os povos exibem as suas riquezas como se fossem brinquedos. O sábio contenta-se com disparates, e só se tem a si para exibir.



141. Os povos têm imperativos e principios. O sábio improvisa.
142. Os povos são atinados e bimbos. O sábio é desleixado e labrego.
143. Os povos somam saber e glória. O sábio soma prazer e humilhação.
144. O sábio não é um comediante brilhante que entretenha com tiradas intiligentes os comicios. Uma tarde com ele é uma chatice. Estará calado ou será um tagarela. As suas palavras são abruptas. Os seus pensamentos descontinuos. Para professor é bastante confuso.
145. O sábio é produtivo como a natureza, tentando abraçar todas as coisas ao mesmo tempo. Mas o seu corpo não chega para as encomendas.
146. A natureza é uma mãe com demasiados filhos.
147. A artephysis é uma puta.
148. O Tau-Tau esquiva-se. A burocracia é omnipresente como Deus.
149. Por mais constante que seja a natureza esta desdobra-se em inumeras expressões e sensações.
150. Não há expressão antes de ser exprimida. A expressividade é os sentidos em acção.

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