Thursday, September 13, 2007

O livro das Escusas (8)


VIII (IX).

150. O que distingue o significante do insignificante é a virtus.
151. A força da significação depende da forma como o significador verga as impressões às suas representações.
152. Não existem impressões puras. Existe é uma disponibilidade, ou abertura, para determinadas experiências.
153. Não existem representações puras. Toda a representação agrega as representações que a precederam.
154. Uma representação está sujeita ao palimpsesto activo que murmura nas suas entranhas.
155. O culto do virtus é a virtude.
156. A virtude leva as interpretações onde ela quiser.
157. A virtude recusa o emudecimento total perante os factos, assim como a opinião fácil.
158. A virtude discrimina meticulosamente antes de ser assertiva.
159. A virtude é quase céptica, uma vez que os prós e os contra que cada situação exige recomendariam em caso de prudência a suspensão de qualquer decisão.
160. O não tomar uma decisão é uma conformidade. A virtude exige em resposta à adequação inactiva ao estado crítico das coisas a multiplicação decisória em vários sentidos.
161. A virtude é o que manipula subtilmente a acção sem caír na tentação de poder. Essa manipulação coloca os poderes como algo exterior ao manipulante.
162. Essa manipulação consiste em fazer deixar actuar grupos de forças que aguardam sinais nesse sentido



163. A manipulação não tem caracter cognitivo.
164. A manipulação deixa significar, isto é, entrega o cordeiro aos lobos.
165. É através dessa deixa para que a significação se faça que o insignificante é esmigalhado pela virtus.
166. O insignificante só regressa como dádiva do esquecimento.
167. O esquecimento é o solo de onde toda a novidade floresce.
168. À erupção da novidade deveria chamar-se rememoração.
169. Remorar sem que a novidade esteja presente é a anamnése.
170. Forçar a rememoração é incorrer nos dédalos do insignificante.
171. A experiência da rememoração onde não há vestígios aparentes de nenhuma memória é uma animação destituída de alvo. É como uma caça que se torna num passeio.
172. Essa experiência de despovoamento in moto provoca visões de caracter anamnésico.
173. Podemos dizer que essa entrada no absolutamente vazio e fantasmagórico é a «mística».
174. Místico é o que não se pode enunciar, é a fantasmagoria que não encontra eco na prosa.
175. Místico é o intersticial que se devia ler nas entrelinhas mas que nessas entrelinhas é leitura vazia, como uma energia sem forma.

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