Friday, September 14, 2007

tau-tau (201-250)



201. A subtileza obtém coisas que escapam à intiligência.
202. Por vezes a subtileza está próxima da atrasadice mental.
203. Que importa a confusão? Onde reina demasiada ordem reina a esterelidade. Preferes a improvisação ou a impotência? Preferes o dogma ou as subtilezas? Preferes o poder ou a liberdade?
204. Sê o passivo e o activo. Não te contentes em seres apenas a ravina do mundo. Responde-te a ti mesmo. Opõe-te, refuta-te. Compõe-te, confirma-te. Ama platónicamente. Sê um predador sexual. Ou desnaturadamente casto.
205. És aquilo que flui, ora num sentido, ora noutro. O amor e o òdio vêm ter contigo. És inapto como um recêm-nascido? Forte como um homem maduro? Titubeante como um velho? Não. Tu és a elasticidade que contorna todas as idades.
206. Provas a luz e a obscuridade como se tratassem de aperitivos para o Tau-Tau. Sabes o que é o mundo? Ou apenas sabes que sempre houve algo em teu redor ou nas coisas que aconteceram antes e que os homens testemunharam?
207. Tens coragem para seres idealista e rejeitar as sensações como se estas fossem notas de rodapé de uma essência? Não me parece que esse seja o teu caminho!
208. Retorna como se o retorno fosse um passo em frente. Avança para o explendor da inutilidade.
209. Honra-te com a honra. Sê humilde com indiferença. Aceita as honrarias como um ornamento e as humilhações como uma oportunidade. Torna-te o perito de cada ocasião.
210. Quem teme a habilidade senão os inábeis?
211. A espontaneidade, por mais inábil que pareça é extremamente hábil. O inábil nunca será gracioso se nunca se exercitar.
212. Há homens que se tornam ferramentas vivas.
213. O mundo está em mutação permanente e nós participamos voluntária ou involuntáriamente nessa mutação. Os que querem mudar o mundo serão redundantes? Estarão contra a natureza? Ou são apenas instrumentos desta?
214. Participar na mudança do mundo não é obdecer a uma forma, mas entrar no jogo da formação. O numero de classes das formações pode ser simplificado e arrumado.
215. Podemos chamar a essas classes «mutações». É preferivel agrupá-las num número inferior a 100.
216. Nada se possui. Apenas há coisas que se desfrutam. Por isso, de um ponto de vista mecânico há relações sexuais mas do ponto de vista da consciência e da «subjectividade» há apenas onanismo.
217. O desfruto é o que se imaginou e sentiu naquilo que nunca se terá, porque tudo é impossuível e o experimentado é filtrado por representações excessivamente pessoais.



218. As coisas podem germinar ou abortar. A complexidade de causas que contribui para cada acontecimento raramente é mesma e nem sempre é concordante. É certo que há uma inclinação de aspectos que vão num determinado sentido.
219. O sábio intui a direcção dos acontecimentos, mas nem sempre acerta. O sábio tem perante os acontecimentos mais do que uma opinião. Muitas vezes os acontecimentos surpreendem-no. Nesse momento há júbilo.
220. A dificuldade, a facilidade, a força e a fraquesa, são aspectos coreograficos da dança dos acontecimentos. Por vezes o recurso à força é mais eficaz. Outras vezes a inacção provoca revoluções. Frequentemente os fracos desmoronam os fortes. Há sempre forças que resistem às forças que dominam. O sábio procura dar suavidade e flexibilidade aos equilibrios de forças. Uma mudança suave é preferível a uma revolução.
221. O sábio pode não ser extremo ou extravagante mas jamais será fanático. Mas a extravagância leva frequentemente à sabedoria ou ao nada.
222. Quem faz uso de uma força intensa será alvo do seu eco.
223. Quem se limita a ser fraco e passivo incorre no risco de ser esmagado.
224. O sábio sabe que tudo é combate. Por isso foge das guerras. A cobardia do sábio, comparada com a insanidade dos generais, é mil vezes mais digna.
225. A honra de um general está coberta de mortes e sangue, a cobardia do sábio não faz mal a uma mosca.
226. As guerras regeneram os povos, matando as suas gerações mais prometedoras e deixando os países destroçados e mergulhados em impostos.
227. Antes do dever de lutar e morrer pela pátria os homens tem o direito elementar de sobreviver e justificar os esforços de perpétuação dos seus antepassados.
228. Quando a tranquilidade e o bem-estar de muitos está ameaçado é justo que alguns queiram combater. Sem o sacrificio de alguns combatentes as tiranias seriam ainda piores sobre a terra.
229. A violência procura as suas ferramentas. As ferramentas da violência são feitas para ser destruídas.
230. A finalidade dos exércitos é a de desaparecerem.
231. A tarefa do sábio é fazer as coisas desabroxar ou ajudá-las a murchar, se essa for a necessidade mais evidente.



232. O sábio procura acima de tudo a vitalidade e a persistência.
233. A diferença entre um assassino e um heroi de guerra é que um é obrigado a cometer crimes pela sua própria submissão à vontade de chefes enquanto o outro o faz normalmente por livre iniciativa. è o confronto do srviço publico e da iniciativa privada.
234. Quer na guerra quer no crime há um tenebroso prazer.
235. Não há justificação para que se façam estátuas aos herois de guerra e não aos assassinos.
236. O Tau-Tau só tem defenições falsas. Ser falso é mais fácil. A facilidade tem algo de verdadeiro.
237. Quem é que compreende o mundo de facto? É essa uma das tarefas pelas quais nascemos? Ou devemos limitar-nos a viver sem colocar questões inuteis?
238. Quem é senhor dos seus afectos e dos seus estados subjectivos não precisa de pensar em si.
239. As forças vêm de todos os lados: resistem, forçam, reforçam, desistem. O sábio gere as suas próprias forças. Ao gerir-se gere o que o envolve inadevertidamente.
240. O carrasco do mundo é o próprio mundo. Se o mundo procura agarrar-se às suas origens, porque as origens estão presentes a cada momento, o mundo também se agarra à sua auto-aniquilação.
241. Quem se mantém em repouso demasiado tempo enferruja. Quem está sempre em actividade sucumbe. O sábio alterna constantemente repouso comactividade.
242. O Tau-Tau não é do género de acumular dívidas. Na prática ele só acumula dádivas. As criaturas julgam-se devedoras a ele. Mas ele está-se nas tintas para esses sentimentos mesquinhos. O Tau-Tau dá por egoísmo: da dádiva extrai um extremo prazer.
243. Os deuses procuram favores. Os homens negoceiam com os deuses. Sacrificios em troca de favores. O Tau-Tau não entra em negócios reles. Dá o que tem a dar. O que não dá não virá a dar só porque alguém pedincha. O Tau-Tau não cede a chantagens.
244. Qual o sentido do Tau-Tau? Todas as questões quanto ao sentido são incompreensões da natureza do Tau-Tau. O Tau-Tau é determinado, mas o seu modo de acção é a indeterminação. O Tau-Tau faz sentido para cada momento, não faz sentido para o passado nem para o futuro.



245. Toda a intenção é apenas atenção.
246. O fruto da atenção é ainda mais atenção.
247. Mais atenção leva ao extase.
248. Não há uma sequência das coisas, mas multiplas sequências que se cruzam.
249. Uma sequência pode manter-se suspensa durante muito tempo. As sequências podem ser descontínuas. O ressurgimento de uma sequência suspensa é imprevisível.
250. Para uns o Tau-Tau é desprovido de sabor. Para outros o Tau-Tau é a intensidade das especiarias. É a geografia que cria estas necessidades.

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