Friday, September 14, 2007
tau-tau (301-350)
301. Ao mestre faltam objectivos precisos. Ele não olha para o alvo, mas para tudo o que está à volta do alvo. O alvo é o inevitável.
302. Os falhanços do sábio são os sucessos das civilizações.
303. Todas as obras de arte são fracassos, sobretudo as mais interessantes. É isso que as torna imprescindíveis.
304. A incompletude faz sobressair a sofisticação. Quando uma civilização atinge a perfeição vira-se para a variedade extra-canónica e para as erupções do tosco. A sprezzatura dos maneiristas em pouco difere do wu wei dos taoístas.
305. A maior beleza parecerá frouxa.
306. A beleza compulsiva parecerá demente.
307. A beleza é o styling da sexualidade.
308. A arte mais complexa menospreza a significação literal e as esmeradas intencionalidades.
309. O sentido em arte é uma ratoeira para imbecis.
310. A perfeição é um ideal de tipos carentes que querem continuar carentes.
311. Na cama a perfeição não existe.
312. Pericia, intuição, improvisação, reciprocidade: sem estes elementos o sexo é estafado.
313. O orgasmo é a promessa de um extase muito superior. A beleza é apenas a promessa de um orgasmo.
314. O sublime exprime-se naturalmente nas morfologias da sexualidade.
315. O sublime de tipo chinês procura acentuar as referências post-orgásticas, isto é, a descompressão.
316. O sublime tal como foi forjado pelo vucabulário filosófico do ocidente não é distinto da mais crua sedução. Há nele algo de operático, de enfático. Percebemos melhor Kant escutando o Don Giovanni. Caspar Frederich é um contemporâneo de Schopenhauer que procura antecipadamente a música insipida de Wagner.
317. A forma vem simples. Depois busca a composição e a perfeição. Então quererá libertar-se do que obteve. Procurará dobras e convulsões. Finalmente agradar-lhe-ão as nuvens e o nada.
318. Depois do nada a forma regressa revigorada. Tal como o sexo.
319. Ao aceitares o mundo ele abre-se como uma fruta madura.
320. O desejo semeia. É a limitação que colhes. É na aceitação que desfrutas.
321. A concordia é o que sobra à discórdia. A discórdia é o que é ensinado. A concórdia o aprendido.
322. Torna-te o professor que constantemente se supera.
323. O improvável é a fera.
324. O sonho é o que restringe.
325. O subtil é mais forte que o perentório. A desconversa é mais interessante que a persuasão.
326. O que não se move opera no mundo revoluções discretas.
327. Ensina como se refutasses todas as evidências.
328. Age como se surfasses na crista da onda dos acontecimentos.
329. Glória ou posteridade, qual das duas a mais ingrata? Antes a fome que a fama. Ao nome prefere a lama.
330. Encara os teus deveres, não como um sacrificio, mas como uma distracção.
331. O amor destroi mais familias que a riqueza. Toda a riqueza é trabalho desperdiçado somado a roubos acumulados. É o amor e a riqueza que operam as grandes mudanças no mundo.
332. O sábio permanece contente no momento do desastre. O contentamento é a maravilha que ninguém lhe pode extorquir.
333. O sábio combina o espirito da dança com a prudência. É ingénuo para com as pequenas mentiras porque está sempre atento às grandes.
334. A imperfeição é mais perfeita que a perfeição porque a perfeição se circunscreve a si mesma e a perfeição nunca mais acaba.
335. O que é oferece a sua presença na deterioração.
336. O vazio é a abundância de espaço. A abundância é a míngua de espaço.
337. Quem acumula sofre o peso do acumulado. A acumulação leva à inércia.
338. As contradicções não são suficientemente falsas nem verdadeiras. As verdades só se adequam a factos menores. Os paradoxos são as sobremesas das aparências.
339. O Paradoxo é constante e não leva a nada.
340. O engenhoso parece desageitado. Mas é ele que se safa.
341. A grande eloquência parece uma tagarelice, mas é o prazer de falar que torna as palavras mais intensas.
342. O desejo aquieta o mundo. A acção abre portas para o contentamento. A inacção é a diferença da indiferença. As coisas não precisam de ser controladas.
343. O desejo é a maldição que traz a benção.
344. O sábio é ganancioso de contentamento.
345. A miséria alheia as pessoas dos sentimentos elevados.
346. É através da alegria que condensas o que há de melhor. Os actos dos outros são apenas o desenvolvimento inconsequente da alegria que trazes no ventre.
347. A experiência vale pelo que se experimenta e não pelo que se conhece. O conhecimento é uma experiência. As atribulações do conhecimento não são forçosamente induzidas da experiência.
348. Quanto mais sabes mais gostas de experimentar por experimentar.
349. O sábio vagueia para experimentar. Não acumula conhecimentos nem julga sas suas experiências.
350. O seguidor do Tau-Tau vai desaprendendo. Cada dia ele sabe menos. Ele prefere a ingenuidade à lucidez.
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