Thursday, September 13, 2007

O livro das Escusas (3)


III.
73. Passamos a definir a esfera de acção que nasce da escusa à grande escusa.
74. Só há acção se o criado se deixar animar, ainda que «fantasmagoricamente».
75. Entre o animável conhecido a espécie homem é a mais complexa e dotada de atributos.
76. Todo o animavel está sujeito a 3 modos de acção: o kairos (o tecido punctiforme do tempo que determina todos os actos) que é comum a todas as bestas; a métis (o engenho, a intiligência prática que contém a intiligência reflexiva e desnudante) que é especifica do homo faber; e o enthousiasmous (a interface possessiva/despossessiva) que gere a relação entre o homem e as suas experiências com os daimons (deuses, ideias, vacuidade, etc).
77. O kairos é como o karman, é do dominio exclusivamente material (da prakriti). Faz circular actos e gestos e encadeá-los como uma teia. A percepção do kairos é a do próprio tempo como propício ou nefasto. O kairos prepara a gestão dos sinais que dão indícios e tenta maximizar as estratégias e táticas. A optimização da predação é o que fez nascer o kairos.



78. A métis é a mente ardilosa, sendo específica dos homens mas pouco comum entre eles. Na métis destaca-se a arte de formar planos, de fabricar coisas e de mentir. Os seus casos heroico-mitologicos são o Ulisses do cavalo de troia e o Krishna que gere o desfecho do Mahabharata. O inventor, o escritor de ficções, qualquer semeador de ilusões, possui esta virtude rara.
79. O enthousiasmous é mais comum que a métis, mas o seu domínio é mais subtil. Todos os homens são dotados de métis, todos são capazes de fabricar e de mentir. Do mesmo modo o enthousiasmous é comum à espécie: é a sua capacidade para negociar com o divino, submeter-se-lhe, identificar-se com este e até vergá-lo ou superá-lo. O divino ou sagrado é o que é ora «luminoso» ora absolutamente terrivel. Usualmente é visto como «sobrenatural», pois as experiências a ele associado tem tendência a fugir às regras da «matéria». Todas as ideias e pensamentos têm um vínculo com os daimons.
80. Os actos perseguem os actos. Cada acto actua não só sobre os actos consequentes como sobre os actos precedentes.
81. Um acto pode obter tanto a redenção quanto a prevenção.

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