
CAPÍTULO V
Há uma tendência perversa em pensar que as coisas têm ou uma única causa e que essa causa tem eventualmente causa nenhuma. Ignorar a multiplicidade de causas é atirar o intelecto aos crocodilos e convidá-los a que nos devorem.
Não que o mundo seja uma desordem eminente, mas a sua consistência labirintica não o isenta de regularidades.
A ideia de alma só faz sentido em função da mobilidade e da agilidade. A inércia física inerente a toda a matéria torna essa mobilidade mais excitante.
A imaginação não basta. A arte combinatória permite alguma predação, mas é a resistência da matéria aos jogos inócuos que produz a felicidade.
É certo que fujimos a sete pés de uma defenição concisa. O rigor obriga-nos a que justifiquemos as divindades suprimindo-lhes os atributos, e fazendo dessa supressão uma excitante experiência intelectual.
Há um prazer no exercício de geometrias simples com fins hipnóticos. O poder hipnótico dos diagramas é um bom suporte para a meditação, porque o simples é mais fácil de encarar do que o confuso. E o rigor ajuda a dar alternativas ao fluido. A justaposição de um jardim zen e de uma piramide é o que permite contrastar o «eterno» e o efémero.
É certo que a razão procura circunscrever-se aos seus limites como um software que só serve para aquilo. Mas a natureza procura mais do que uma programação que se contrai perante as tautologias que a fundam. É o sentimento de evasão como acrescento ao limitado que a tretalogias mistas oferecem.
A natureza torna-se absoluta na sua negação, adquirindo uma liberdade ilimitada. Mas a natureza procura a nossa erecção, e é através dela que nos tornamos antigos, como se saíssemos de um museu e acordassemos para as musas. É bom estar cá fora.
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