Friday, September 14, 2007

tau-tau (401-450)


401. É na violência e no caos que os homens se revelam na sua indignante plenitude. A prudência, nesta situação, de pouco serve. O desespero e as necessidades mais básicas e mais vis são as normas.
402. Toda a guerra é um crime. Nenhum guerreiro está isento de crimes de guerra.
403. A paz e a civilização escondem as evidências ferozes da guerra e sublimam-nas nas instituições.
404. A arte é a alternativa à guerra.
405. É certo que a arte se torna, mais cedo ou mais tarde, o ornamento das instituições e a fachada de algo maligno.
406. A ingenuidade da arte disfarça a crueldade e o cinismo dos governos. Por isso os poderes não são indiferentes à arte.
407. O luxo é mais do que um acto de valorização. A delicadeza do luxo pressupõe uma hiperssensibilidade.
408. O estado emocional do sábio não é o espelho do estado das coisas.
409. A artephysis não se resigna com facilidade à sua violência.
410. O direito ao prazer é mais consequente do que o direito à felicidade.
411. Uma linha tortuosa é melhor solução do que uma linha recta.
412. Se queres saír depressa de casa, salta pela janela.
413. Um povo honesto não é feliz.
414. A sedução faz mais milagres que a bondade.
415. Quando uma nação construir os seus hábitos suprimindo o prazer poderá viver tranquila, como se estivesse espartilhada, mas nunca viverá contente.



416. O sábio é firme na sua flexibilidade.
417. Perante o fanatismo o sábio é inflexível.
418. Governa o mundo inteiro como se assasses sardinhas. Mas governa a tua casa como se cozesses um pargo.
419. Há sempre um caminho fluido no meio do atrito.
420. A grande força não faz demonstrações de força.
421. A exuberância só faz sentido para enganar o inimigo.
422. Quem tem lata procura mais oportunidades.
423. O sábio não está enraízado na terra, é a terra que se enraíza nele.
424. Devemos procurar ter influência enquanto palitamos os dentes.
425. Andar de uniforme é ter já dois palmos dentro da morte.
426. O Tau-Tau não está na ponta das baionetas, mas na ponta da lingua.
427. A emoção é a locomotiva da intiligência.
428. Há emoções que são como feras e estão prontas a devorar-nos.
429. O sábio esquece o sublime. O sublime não passa de um mau sucedâneo do Tau-Tau.
430. As emoções quando se tornam banais geram violentas emoções colaterais.
431. As melhores relações entre estados são as mais frescas.
432. Os pactos antigos sabem a hipocrisia. São como a velha viuva tentando seduzir o asceta senil.
433. Quando as coisas estão tenras são mais submissas.



434. A vontade dos grandes submete-se à indiferença do sábio.
435. É preferível estar no centro de um pequeno país do que no suburbio de um grande.
436. Divisa do mestre: a elasticidade na elasticidade.
437. O que governa a vontade é um desejo masoquista de submissão à natureza.
438. A nossa única finalidade é evadirmo-nos de todas as finalidades.
439. O Tau-Tau desinteressa-se pelas origens. Nem sequer é origem de origem. Não é ser nem não-ser. É Não-não-ser.
440. O É de que fala Parménides foi suficientemente refutado por Górgias. As afirmações de Górgias não se destinavam a provar o não-É, mas a lançar uma suspeita sobre a comunicabilidade e a lógica.
441. O Não-não-é é como a doxa: é multiplo, equivocamente comunicável, divisivel e ilusório.
442. Há algo entre a emergência e a aniquilação, entre o ser e o nada. É isso que é a natureza e o Tau-Tau.
443. Como é que alguém se pode refugiar e consolar com o Tau-Tau? Se fosse ser seria indestrutivel. Se fosse Nada seria igualmente indestrutível. Ora o Tau-Tau é criação e destruição simultaneamente. Nem ser nem nada.
444. O Tau-Tau não procura respeito ou admiração.
445. As convenções só são interessantes como plantas. Há convenções mais e menos belas. Podemos tirar consequências de um juízo estético? Talvez.
446. Se procuras o Tau-Tau não o encontrarás. É quando foges que o encontras. Mas não procures fugir para o encontrar.
447. O Tau-Tau joga às escondidas e no entanto não há nada mais omnipresente.
448. Tau-Tau? Tchau-Tchau!



449. Trata as dificuldades com ironia. Encara a não-acção como a dificuldade suprema.
450. A facilidade com que o dificil se torna fácil é identico à capacidade de o fácil assumir proporções trágicas.

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