Friday, September 14, 2007

tau-tau (251-300)


251. A arte ínsipida é mais higiénica e subtil. A arte intensa é mais òbvia e porca.
252. O Tau-Tau é arte e e a gama dos sabores. Pode parecer inaudível, mas ouve-se. Pode parecer invisível, mas vê-se.
253. O Tau-Tau é concórdia e discórdia. É como a respiração. Quando inspira todo o ar se concentra numa zona, quando expira todo o ar se dispersa.
254. O Tau-Tau é como a música barroca: combinatória de simultaneos em multiplos sentidos.
255. Se quiseres retirar força a um adversário deixa que ela se disperse. Por mais forte que seja, se a sua força estiver distribuída em muitas zonas o núcleo central será enfraquecido.
256. Usa a força com a maior intensidade e concentração. Persistência e elasticidade são os eixos fundamentais do vigor.
257. Sê flexível como as mulheres. Sê musculado como os guerreiros.
258. A subtileza e a artimanha são mais eficazes do que a força exuberante.
259. A dissimulação penetra no amago de um adversário com mais exactidão do que mil espadas. Destroi o inimigo com palavras. Move-te no invisivel. Usa os seus exércitos para o destruires.
260. O Tau-Tau é o manager do mundo. A sua inacção aumenta a produtividade. No entanto não há perguiça. Apenas uma atenção quieta.
261. A Natureza é desejo. O homem quer arrancar o desejo de si como se este fosse um mal. O homem, na melhor das hipóteses, deseja não desejar. A natureza deseja tranquilamente. E assim as coisas despontam para a exuberância.
262. O inanimado não mostra o desejo. Onde há vida há desejo. A vida procura estruturas cada vez mais complexas. Na complexidade há desejo. Só a simplicidade morta se contenta. O Tau-Tau é o oposto desse tipo de amputação que celebram os budistas.
263. Amar é levar o desejo mais longe. Não há amor sem interesse, seja filial ou passional.
264. Sendo o amor interesseiro ele pode ser o interessado e servir o que se ama.
265. A religião procura obter situações vantajosas ao apelar aos poderes calmantes ou irrequietos do invisível.



266. A justiça é onde os interesses pessoais coabitam com outros interesses de outras pessoas de uma forma ajustada.
267. Se as pessoas não se adequam umas às outras podem afastar-se. Quando os interesses divergem surge a guerra. Quando faltam interesses começa a decadência.
268. As hierarquias existem para que a energia e a inércia sejam bem aproveitadas. As hierarquias surgem com naturalidade nos sistemas. É por elas que os homens lutam.
269. Depois de estabilizada uma hierarquia é muito difícil alterá-la. Os homens lutam por estar no topo das hierarquias como se procurassem a sua perdição.
270. A religião e os ritos dão legitimidade às hierarquias. A legitimidade é apenas um aspecto teatral. A semelhança entre o tribunal e o teatro já vem desde os gregos.
271. A religião torna os deuses mais fortes e os homens mais fracos. Os homens que negoceiam com ínvisivel ficam para sempre em dívida para com ele.
272. O Tau-Tau torna os homens mais fortes e os deuses mais decorativos. Há nesta afirmação algo de rocaille.
273. A dependência extrema do ínvisivel chama-se devoção. Em vez de escravo do mundo o devoto é escravo do ignoto. Vai-se tornando ignorado e alheio ao mundo.
274. O devoto que nada pede está intoxicado de divindade, tal como o opiado do òpio. A devoção é mais barata do que o òpio ou o deboche. Por isso alguém disse que a religião é o òpio do povo. Esqueceu-se de dizer que a revolução era uma ratoeira que apenas leva à substituição hierarquica.
275. A igualdade absoluta é não só impossível como indesejável. A hierarquia existe na natureza como a àgua nos corpos vivos.
276. Há porém momentos de equilibrio e de igualidade social: o banquete e o carnaval.
277. O sábio prefere a lucidez à fé. O sábio sabe que o improvável e o desconhecido são mais fortes que a hipocrisia da normalidade ou que a evasão desta.
278. A fé rejeita o novo, o sábio garante-o.



279. A esperança é um desejo muito defenido pelo qual se aguarda. O sábio satisfaz os seus desejos mal pode e não procura satisfações no futuro. Na esperança há algo de demente que engendra paradoxos.
280. O messianismo é o paradoxo politico-religioso da esperança.
281. O sábio prefere afinar a sua capacidade de extrair prazer do maior número de coisas possiveis em deterimento de uma esperança à qual sucederão decepções.
282. A verdadeira esperança só pode ser esperança do que já aconteceu. A improbabilidade do acontecido é superior à probabilidade do por acontecer.
283. Aceita a tradição com indulgência, rejeita as utopias com intiligência . É a tradição que regenerará as coisas. O espirito da revolução é o do desprezo.
284. Quem olha para o passado menos próximo constatará que este não estava preparado para chegar ao presente. Um momento do passado não é a potência de todos os futuros. Se assim fosse, tudo o que acontece estaria previsto no momento inicial, como um plano bem preciso. O que acontece é que cada momento abre fissuras na determinação.
285. O presente é o que desvia o passado dos seus propósitos mais consequentes. Essa é a importância do presente.
286. Os homens sempre gostaram de idealizar passados monumentais, gloriosos. Sabemos que nada disso aconteceu, antes pelo contrário.
287. O céu seria puro, a terra, fonte de abundância. A duração da vida vasta. A natureza acolhia o homem como uma mãe diligente. Podiamos continuar esta insensata fábula horas a fio, como se falássemos de coisas aborrecidas.
288. Os nossos mitos actuais supõem uma coisa a que chamamos dinossauros. Mas o que houve foi um tempo sem nomes. E uma solidão ainda mais profunda perante um mundo essêncialmente desconfortável, onde a primazia era dada à subrevivência das espécies.
289. Descobriu-se com o tempo o prazer do acessório, a vertigem do sagrado, a excitação da guerra, a insensatez da poesia.
290. Devemos exaltar a fraqueza, o desnecessário, o frugal, as antípodas do sublime.
291. O homem cai e ama a sua queda.
292. Rasga as sedas, livra-te do jade. Come arroz.
293. O Tau-Tau recicla.
294. Aceita os dejectos como se fossem ouro.
295. É o esterco da terra que regenerará o mundo.



296. O Tau-Tau é o que faz rir desbragadamente os que estão em baixo. Os poderosos precisam da seriedade para se fazerem respeitar. Os que estão no meio pensam que a respeitabilidade os pode fazer poderosos. Por isso têm cara de pau.
297. O riso corroi as hierarquias.
298. Os que não riem procuram salvar-se através de rituais violentos.
299. O sábio é como uma hiena, aproveita o que os outros já não querem devorar. Por isso solta gargalhadas.
300. O Tau-Tau parece uma loucura, mas não passa de uma doce irrisão. Os que não riem elouquecem com mais frequência.

No comments: