Friday, September 14, 2007

tau-tau (501-534)


501. Só o pensamento que dansa se consegue elevar acima da verdade e da mentira.
502. A natureza prefera as curvas às rectas. Foi para distinguir a «humanidade» da natureza que se construiram piramides e zigurates. Um sublime non-sense.
503. A lógica da arquitectura é uma lógica da morte. A casa prepara o túmulo.
504. Os homens não foram feitos para estar fechados em casa.
505. A espiral pode ser disfarçada pelas geometrias derivadas do número de ouro. Mas esta substituição não passa de uma superstição.
506. Há no entanto construções que são feitas para que a natureza se torne mais aprazível, onde o ar entra e onde o céu se torna mais azul. Que lindo!
507. O culto dos mortos no Egipto é o oposto da obcessão com o porlongamento da vida dos chineses.
508. A natureza é maneirista. Faz contrastar o sofisticado com o rústico, o orgânico com o inorgânico, a decadência com a emergência.
509. A natureza é sósia do homem.
510. As necessidades provocam o aumento. O exercicio adia a decadência. A sobreabundância convida ao carnavalesco.
511. O sábio alterna o comportamento carnavalesco com um falso puritanismo. Apenas aceita a pureza como uma preparação para o deboche.
512. É do prazer no trabalho que se obtêm recompensas. Toda a recompensa extra só serve para amaciar a auto-estima.






513. Benefeciar o mundo é benefeciar do mundo.
514. A arte é irresponsável perante os povos, mas a arte é a resposta ao mundo.
515. Os povos são solidários. Forjam laços que apenas servem para conservar o status quo. A arte serve para liquídar. A arte é como a àgua, endurece, torna-se liquída e evapora com bastante facilidade.
516. Os povos são governados com a força das armas e do dinheiro. O artista governa o mundo com a fraquesa da arte e com a aderência ao clima.
517. A arte responde à arte. As coisas inuteis têm uma responsabilidade perante a inutilidade que as precede. Esse dever inalienável entra no coração da produção artistíca.
518. Para alguns a arte só se passa nas obras que o artista produz. Para o sábio o importante na arte é a vida que não está nelas.
519. Com òdio e ressentimento não se fazem obras de arte mas apenas maus cartoons. Nada disso remanesce.
520. A arte é as dissonâncias da reconciliação. Uma harmonia que exclua as dissonâncias e as impurezas tem hábitos assassinos. A arte procura o impuro. Com esse impuro contaminará o mundo através de epidemias benéficas.
521. O tesão de uma nação é o prazer da punição. O sábio, pelo contrário, nem sequer precisa de perdoar, ‘porque no Tau-Tau não há culpas ou delitos.
522. O sábio não procura forjar imagens utópicas, sejam atarracadas ou gloriosas. Quem se agarra a uma utopia agarra-se a uma mediocridade. O mundo, com tudo o que é tortuoso, inclemente e indignante, é mais fascinante que a mais perfeita das Utopias.
523. As nações devem seguir o hálito do mundo. As nações devem aceitar a sua natural dissolução. As nações necessitam mais da interacção de todos os seres com todos os outros seres do que disputas de faca e algidar por bandeiras foleiras, linguas, religiões ou pedacinhos de terra.




524. Não confio na honestidade de um povo que se veste discretamente. Prefiro confiar na desonestidade de um povo que se vista com exuberância.
525. A retórica é mais exacta do que qualquer verdade. A verdade é uma pretensão, a retórica uma mecânica.
526. Uma relação amorosa sem conflitos não sobrevive durante muito tempo.
527. A concorrência optimiza.
528. O sábio conhece os seus limites. Os seus progressos são lentos e graduais. Os seus retrocessos são frequentes e normais.
529. Para o sábio a qualidade procura a diversidade.
530. Enquanto todos dormem o sábio pensa. Os efeitos dos pensamentos do sábio entram nos sonhos dos homens. Quando estes acordam há no ar uma estranha sabedoria.
531. A prudência precisa de irreverência e disputa.
532. A vida precisa mais de satisfação do que sentido. A pequena satisfação quer sempre uma satisfação mais intensa.
533. É a dor assim tão imprescindível? Não. É a seriedade garante de alguma coisa concreta? Não!
534. Haverá melhor benefício do que o extâse?

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