Thursday, September 13, 2007

TRETALOGIA MISTA (1)

por Pafnúcio o Páriofajita




CAPÍTULO I


O que é o obscurecimento divino?

Questão babosa? Consistência triádica? Mergulho no supernatural? Complexidade intelectual? Conhecimento exaustivo?

Como guiar os homeostéticos com um holofote de bolso à suprema iluminação?

O homeostético desconfia (mas também confia) das suas intuições selvagens e como tal procura alicerces nos enunciados rigorosos de uma lógica post-paradoxal.

Conhecimentos místicos com muitos tan-tans. Sim! Exame crítico do incompreensível? Idem aspas! Exaltação do conhecível e do conhecimento mundano e similares. Pois claro!

Uma boa tretalogia deve ser mista. Sem sincretismo dos vários modos de conhecimento o escrutinamento e o usufruto hedónico do mundo e da arte é apenas parcial. E, acrescento, ilusório!

Dirija o seu conhecimento para mistérios mais puros, sem roupa suja. Pendure-se numa concentração que absorva o absoluto como uma esponja. Não tema o incompreensível! Com os nossos detergentes intelectuais depressa se tornará não só detergível como branco e límpido.

Se você gosta de silêncios secretos e das ténebras que vão brilhando, ou de abismos intelectuais nós temos as melhores receitas, e saberemos carregá-lo de energias sobreabundantes que cegarão as mais acanhadas ignorâncias.

Deixe que a glória invísivel de Deus ou do Vazio (consoante o seu gosto) se apodere de si e o penetre e descobrirá uma beleza impalpável e invisível que envolve as coisas palpáveis e visíveis.



Faça muitos exercícios místicos e não só. Seja misto desde as suas unhas negras até às sumas teológicas e ateológicas que estão adormecidas em si. Seja um Einstein de tudo. Já pensou bem nisto?

É certo que neste mundo tudo é ser e não-ser, sensibilidade e intelecto, vazio e inconsistência. Mas a faixa que lhe exigimos é perfeitamente atingível. Ser menos que um génio é deixar-se atrasar! Para já deve começar por admitir que o Absoluto é você, sem caír em convencimentos idiotas. Considere-se o Absoluto com o máximo de humildade. Constate ao mesmo tempo que isso é a Suprema Humilhação.




As trevas divinas estão lá para o ajudar a renunciar aos seus objectivos de carácácá e à sua subjectividade estafada. Há alguma super-hiper-realidade para além de si? Não!

Tem demasiadas contradições num sururu a perturbar-lhe o dia a dia? Pois bem. aceite-as. Experimente uma série de tretotécnicas que lhe tornarão cada segundo insuportável. Você será o pária dos párias. A sua respiração esmaga-o. O próprio suicídio será pouco para o aliviar destes tormentos. Ou então experimente as tretotécnicas aprazíveis, com intensidade e persistência. Se o fizer com um espirito leviano o Universo ser-lhe-á indiferente! Você apenas quer ser o Mestre e o Escravo, num grande orgasmo intra-extra-cósmico sado-masoquista.

O caminho mais rápido é a autoestrada das negações. Guie com prudência?

Aquele que sucumbe a uma desprivação total percebe que nem a linguagem o segura. As distinções acodem-lhe apenas através dos sentidos como ondas que vão e vêm. Os deuses ausentam-se. As palavras tornam-se incompreensíveis e musicais.

Porém aquele que caminha no deserto tem que se segurar às palavras como pilares que sustentam o céu e que abrem as portas para a desmesura do desconhecido. Deus é uma tenda. Todo ele é rigor e desmesura.

O divino também se resguarda com as suas minúcias, teológicas ou ateológicas.

A negação entranha-se no humano como uma fera apocaliptica.

A negação acaba por devorar Deus. Quando voltamos a beber os copos de àgua é porque tudo já passou. Antes, os monges zen pareciam idiotas. Depois tudo se tornou maravilhoso. Finalmente os monges zen voltaram a ser idiotas.

Fomos todos feitos para ser purificados com violência. Consola-nos a possibilidade de existir uma ternura transcendente, mas será que há mesmo?

O divino é só o multiplo. A unidade é demasiado profana. Faz parte dos enunciados académicos. E das teses atrasadas mentais.

Deus contempla os homens com fastio. A morte ânseia-os com dentes caninos. A eternidade está putrefacta.



O homeostético gosta do desconhecido como de uma pastilha elástica. No ínicio é açucarado, finalmente converte-se em mastigação. É dessa mastigação que nascem os poemas, como pastéis primitivos, verdadeiros empadões em que se sente o autêntico sabor a bufalo.

O homeostético cai pela sua inactividade abaixo.

O sagrado é quando se desdobra o gardanapo e se sente a textura da iguana. A inactividade eleva os homens ao quadrado. Passamos dos quatro membros aos dezasseis e depressa nos apercebemos que não somos muito diferentes de Shiva.

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