Thursday, September 13, 2007

O livro das Escusas (14)


XIV (XV).

223. O fluxo das coisas, das representações e das emoções é de díficil previsão.
224. Cada acontecimento está inclinado para vários outros acontecimentos. A causalidade não é aleatória porque há nexos causais, mas é díficilmente previsivel.
225. As grandes necessidades podem parecer as mais pertinentes, mas os grandes problemas de amanhã são os que hoje são vagamente balbuciados.
226. O mundo, e aos acontecimentos que o acompanham, tem uma têndencia autorrefutativa. O sábio acompanha-o nessa tendência e tenta aprofundá-la. Para a acompanhar, o sábio começa por se refutar.
227. A perplexidade ante a complexidade é a atitude mais adequada e prudente.
228. Essa atitude, embora sábia, deve ser contrariada com a acção criativa.
229. A criatividade activa redime o conformismo da perplexidade.
230. O conformismo do preplexo é uma forma de inconformismo que deve ser combatida de um modo ainda mais inconformista com essa saída para a acção post-paradoxológica.
231. O perplexo, apesar de perplexo, deve apostar.
232. A aposta do perplexo é sempre uma aposta «ao lado» do jogo de opiniões dominantes. É algo esquivo e ao mesmo tempo certeiro.
233. O perplexo deve enumerar, ainda que num círculo restrito as tensões críticas e desmascarar os double binds que dramatizam o mundo.
234. O perplexo, é antes de mais nada um crítico de si mesmo e de todas as civilizações, assim como das injustiças contidas na natureza.
235. O perplexo é consciente quer dos «ilusórios» nexos causais quer da não-causa que é a nulidade do mundo.
236. O silêncio do perplexo não o satisfaz.
237. A sabedoria é a descrição tagarelante do inominável.
238. O sábio é um rigoroso tagarela.

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